Do protagonismo na peleja mineira à análise
- Luana Reis
- 13 de jun. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 14 de jun. de 2018
No livro “Tostão - Lembranças, Opiniões, Reflexões sobre Futebol” o ex-meia do Cruzeiro destrincha a carreira dentro e fora das quatro-linhas e contrapõe o futebol da década de 1960 a 90, com bônus sobre os principais esquemas táticos

Uma rica viagem no tempo. Assim pode ser definido o livro “Tostão - Lembranças, Opiniões, Reflexões sobre Futebol” do ex-meia do Cruzeiro. Nele, Eduardo Gonçalves de Andrade, como o ídolo da torcida se chama, perpassa sua trajetória vitoriosa no clube mineiro, a ponto de ampliar o eixo futebolístico nacional, a alçada da Seleção de 1970 à Taça daquele Mundial, o acidente que o tirou do futebol como atleta, em 1973, para o exercício da medicina, e, também, seu retorno - como colunista e comentarista esportivo.
Em 35 textos e um adendo dedicado à análise de táticas que revolucionaram o futebol mundial o ex-jogador desvenda os bastidores da peleja brasileira da época, e não se limita à descrição dos elencos, do trato para com os atletas, mas também descreve a atuação dos boleiros diante da política brasileira - no período vigorava a Ditadura Militar.
Por exemplo, Tostão conta em um dos textos sobre o Mundial do México, no qual o Brasil sagrou-se tricampeão, que ninguém falava de política. Por isso, talvez, João Saldanha - uma figura tão emblemática no cenário esportivo brasileiro, que fora escritor, jornalista e também treinador de futebol - tenha deixado aquela Seleção que o ídolo da Raposa compunha, às vésperas da Copa do Mundo. Que no livro mais recente de Juca Kfouri (“Confesso que Perdi”) o autor pincela a personalidade de Saldanha - um crítico afiado, profundo, em todos os sentidos. A obra de Tostão dá a isca para essa possibilidade.
Com um texto fluído, conciso e direto - até demais, em alguns momentos, visto que os relatos de alguns gols emblemáticos são “frios” - o ex-jogador vai analisando aquela peleja das décadas de 1960 e 70, quando triunfou em Minas Gerais, e a contrapõe com mudanças que já vinham se moldando no contexto da publicação do livro, em 1997.
Tostão também relata o encerramento de sua carreira como jogador, aos 26 anos, em 1973, devido ao descolamento na retina que sofrera quatro anos antes, durante a partida Cruzeiro X Corinthians, no Pacaembu, e sua atuação como médico. Ele se formou em 1981, em Belo Horizonte, e exerceu a profissão até 1994, quando foi convidado para assistir à Copa e escrever para jornais. Naquele Mundial, o ex-craque reatou os laços com o futebol, no extracampo, como comentarista - ao lado de Gerson e Rivelino, pela TV Bandeirantes.
Apesar de conter apenas 106 páginas, o livro é rico em informações, visto que retrata bem não só o cenário futebolístico - e pincela o político - das décadas mencionadas, mas possibilita a reflexão sobre o futebol já profissionalizado e bem difundido, em 1960. Que, somente com os títulos, na década de 1960, que o Cruzeiro ascendeu, tomou o holofote Mundial para si. Nesse pano de fundo da reunião de suas memórias, Tostão dá ao leitor o contexto da expansão do eixo futebolístico nacional: a abertura para Minas Gerais somar ao ‘Rio-São Paulo’.
Assim, sua obra contribui para o entendimento acerca do histórico do nosso ‘bate-bola’, que, para quem o estuda, vê que desde sua chegada nas terras verde-amarelas - com Charles Miller, lá no século XIX - seus avanços se dão a passos lentos e arraigados no resultadismo.
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