top of page

Ademir da Guia sobre a peleja: É questão de gostar e poder

  • Foto do escritor: Luana Reis
    Luana Reis
  • 28 de mai. de 2018
  • 6 min de leitura

Atualizado: 29 de mai. de 2018

Para o ídolo do Palmeiras a apatia pela modalidade mais popular do país cresce conforme a taxa de desemprego; ele também fala sobre o futebol-arte, a fase alviverde e as expectativas para a Copa


Ademir da Guia durante a Copa do ZAP | Foto: Luana Reis

Enquanto observava a peleja dos jogadores da Copa do ZAP, torneio do nicho imobiliário, o ídolo palmeirense Ademir da Guia fez suas apostas para a Copa do Mundo da Rússia, refletiu sobre o descompasso palmeirense e ainda relembrou características do saudoso futebol-arte - que ele e seus companheiros do ‘Esquadrão Imortal’ alviverde jogaram na década de 1970.


Aos 76 anos, o Divino, como ficou conhecido pela torcida do Palmeiras, ainda respira futebol. Mas, conforme a prosa que levou com o Acréscimos, no dia 17/5, essa vivência boleira, a sua presença em eventos do nicho, por si só, dependem da fase do Verdão.


“Quando o Palmeiras joga bem, quando está bem colocado, o time ganhando, nós, que temos o master, somos convidados para eventos no interior, em outros estados. Eventos com torcida, [em] lojas do Palmeiras, aniversários de alviverdes - que completam 60, 70 anos e os filhos nos levam para a celebração - e, com a Copa do Mundo, também, apareceram mais entrevistas. Aumentou a procura. Tudo é um pouco mais, nesse período de Copa do Mundo e que [paralelamente] o Palmeiras está jogando bem".

+ACRÉSCIMOS


O Palmeiras está classificado para a próxima fase da Libertadores. O time bateu 16 pontos em sua chave, liderando-a, invicto. No último duelo, disputado no dia 16/5, o Alviverde venceu o Junior Barranquilla por 3 a 1.


Além do Torneio Continental, o Verdão continua na disputa da Copa do Brasil. O elenco de Roger Machado empatou com o América-MG, no duelo de volta, em casa, e avançou para as quartas de final da competição.


Já no campeonato nacional, no intervalo entre o papo com Ademir da Guia (há três partidas) e sua publicação, o clube do coração do Divino perdeu um dérbi em Itaquera, por 1 a 0; venceu o Bahia em casa, com placar de 3 a 0, no dia 19/5; e perdeu por 3 x 2 para o Sport em casa, no último sábado (26). Com o placar, o Palmeiras fechou a rodada no G7, com 11 pontos.



Puxando o gancho de sua fala, quanto a um time bem colocado, o Divino foi perguntado sobre a qualidade do nosso futebol. Que volta e meia a massa torcedora, ou mesmo os cronistas reclamam da peleja jogada nos campos verde-amarelos, que é um tanto “ mais truncada”. Para ele, “o futebol mudou na maneira de compor as equipes, porque, antigamente, os treinadores tinham jogadores mais técnicos e mais atacantes. Tínhamos dois pontas, que hoje não existem mais, dois centroavantes e um meia. Eu jogava no meio-campo, com quatro jogadores lá na frente. Hoje, tudo foi modificado, [pois] temos mais volantes - que são marcadores -, mais zagueiros. O futebol mudou, porque não há mais tanta técnica.”


E as mudanças que o futebol sofreu não se limitaram à formação das quatro linhas. Assim como a modalidade passou de um período de belos lances - além do saldo de gols - para a fase com uma marcação mais acirrada e um jogo mais lento - se comparado ao futebol europeu -, a torcida também mudou. Até 'amuou'.


‘Comparece quem pode’


Considerando a conjuntura esportiva, visto que é ano de Copa do Mundo e, apesar de estarmos a poucos dias da edição do Mundial que será sediado, este ano, na Rússia, as ruas brasileiras não estão pintadas - como era comum de se observar há alguns anos.


O humor do brasileiro para com a peleja não se manifesta apenas pela pintura - ou falta de pintura - das ruas. Pois, conforme uma pesquisa Datafolha, apresentada pela Folha de S. Paulo no início deste mês, o desinteresse de brasileiros pela principal modalidade esportiva do país cresceu nos últimos oito anos. Cerca de 41% dos entrevistados afirmaram não ter interesse por futebol, 10% a mais que o índice levantado em maio de 2010. Entre os desinteressados, a maioria é composta por mulheres e pessoas de baixa renda - 56% e 45%, respectivamente.


Para Ademir da Guia, o que desenvolve essa apatia pela peleja é o desemprego. “Pelo o que vimos aqui, em São Paulo, por exemplo, [desde que] disputamos o Campeonato Paulista, os públicos têm sido bons. No campo do Corinthians tem sido muito bom, o São Paulo também tem levado um bom número. Acredito que na fase que estamos, por ter muita gente desempregada, sem dinheiro para ir [aos estádios e arenas], é preciso procurar facilitar e ajudar. E creio que muitos clubes estão fazendo isso, com ingressos mais baratos.”


Mas, se considerarmos os preços das entradas vendidas, somente pelo Palmeiras do Divino, já dá para perceber que o futebol não é, de fato, uma modalidade para todos. Que os valores sustentam os dados apresentados na pesquisa Datafolha.


Segundo o jornalista e palmeirense Bruno Florenzano, 28, o acesso aos jogos do Verdão se dá tranquilamente apenas para quem é sócio-torcedor. “Como sou sócio, para mim fica bem acessível [a compra de ingressos para assistir às partidas no Allianz Parque], porque tenho um 'belo' desconto. Mas, para quem não é, creio que sai muito caro”.

Bruno Florenzano, jornalista esportivo do Portal da Band | Foto: Arquivo pessoal


Ele se tornou sócio por conta da pré-venda e o desconto oferecido, e afirma que antes, quando o Palmeiras ainda tinha estádio, o valor-base das entradas oscilava entre R$ 30,00 e R$ 40,00. Hoje, com uma arena, um dos itens que compõem a cultura do futebol moderno, o preço mais baixo para assistir a um duelo é R$ 90,00.


Perguntado sobre a ocorrência de restrições a torcedores causadas pela transição da casa alviverde - de estádio para arena -, Florenzano afirma que existiu e cita o treino que antecedeu a final do Paulistão 2018 como exemplo dessa limitação. “Quando eu fui ao treino aberto, antes da final, tinha muita gente indo pela primeira vez, porque bastava trocar um quilo de alimento [pelo ingresso]”.


E esse preço apontado pelo jornalista também muda conforme o campeonato que o torcedor quer acompanhar. Para assistir a uma Libertadores, por exemplo, um torcedor do Palmeiras pagou entre R$ 90 e R$ 400,00 reais, conforme os preços dos ingressos por setor. Segundo o setorista do Palmeiras da Rádio Bandeirantes, Vinicius Buenos, o valor deve aumentar na próxima fase que o elenco de Roger Machado vai disputar.


Assim, conforme o campeonato, uma parcela de torcedores é poupada do lazer de gritar, cantar, extravasar pelo seu time.


“Ir ao estádio é o meu programa favorito, então sou suspeita pra falar”, pontua Florenzano, e prossegue “sempre que estou de folga tento ir. A emoção muda, sim, conforme a competição e o adversário”.


+2 infos de acréscimo


+ Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego no Brasil subiu para 13,1% no primeiro trimestre deste ano. São cerca 13,7 milhões de desempregados no país - o que representa um aumento de 11,2% em comparação ao trimestre anterior, que registrou 12,3 milhões;


+ Quanto ao preço dos ingressos do Verdão, segundo o jornalista Vinicius Bueno, o torcedor pagou entre R$ 180,00 a R$ 400 para acompanhar a última partida do time, contra o América-MG, pela Copa do Brasil.



SEGUE O JOGO


Diante da constatação dos preços elevados, o Divino, em contrapartida, considera que “quando o preço está salgado a equipe tem de estar bem, tem de estar disputando títulos. Assim, ao menos o torcedor vai [ao estádio ou arena] e pensa ‘vou ser campeão’, então fica tudo bem… É questão de gostar e poder [comprar uma entrada]”.




Tudo bem, mas e o Brasil na Copa? Como fica?


Quanto à Copa da Rússia, o ex-meia alviverde acredita que a Seleção “mostrou que é boa, nesses jogos que disputou, foi bem e venceu. Então, para o torcedor, isso dá confiança”. E pondera: “Não há nenhuma seleção muito boa. Defendem muito, correm muito", no entanto, "temos qualidades para atuarmos bem. Não podemos falar que o brasil será campeão, mas acho que ficará entre os quatro finalistas”.



MINUTOS FINAIS


O que falta para o Palmeiras render em campo conforme o enxerto financeiro feito pela Crefisa?


No encerramento da prosa com o Acréscimos o ídolo alviverde refletiu sobre a atuação do Palmeiras atual que, desde o início da temporada 2017 tem sido questionada. O clube tem o elenco mais caro do país desde 2016 - quando sagrou-se êneacampeão brasileiro - e a última polêmica levantada sobre a eficiência do elenco foi na final do Estadual deste ano, quando o Verdão viu o caneco ser levantado pelo Corinthians na Arena Allianz Parque.

Para ele, o que faz a diferença em campo é um elenco agregado, não um “elenco gigante”, sobretudo num país em que o futebol se pauta no resultado.


- Creio que, às vezes, por ter um elenco muito grande, um clube pode não conseguir montar uma equipe conforme a vontade do torcedor. O mais importante é ter 11 titulares, que joguem e que ganhem não só as partidas, mas também títulos. Os grandes clubes vivem de títulos. A gente comemorou cedo, porque o mais difícil, que era ganhar lá, no Itaquerão, foi feito. Se tivéssemos perdido [no duelo de ida], talvez, não teríamos 40 mil pessoas no estádio, no último jogo. Infelizmente a gente não conseguiu. Foi uma pena e o torcedor fica revoltado, achando que o técnico já não serve, ninguém serve… Você precisa ganhar os jogos e os títulos - os grandes times. É uma grande cobrança porque o clube tem uma história, uma tradição, e quando investe... as conquistas não vêm.

Comments


©2018 by Acréscimos.

bottom of page