100° gol da turma boleira
- Luana Reis
- 15 de jul. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 22 de jul. de 2018

Na contramão da 'cornetização', os integrantes do Memofut batem a marca do 100° encontro, para refletir sobre o futebol, dentro e fora das quatro linhas
Oito horas da manhã de um sábado, mas não de um sábado qualquer. Algumas horas depois teria a disputa do terceiro lugar entre Bélgica X Inglaterra, pela Copa do Mundo da Rússia. Era dia de um(a) ‘boleiro(a)-raiz’ estar preparado para o penúltimo duelo do Mundial, e uma trupe, que se reúne no Auditório Armando Nogueira, no Museu do Futebol, cumpriu a tarefa. Fizeram uma comemoração dupla: no aquecimento para o jogo, exibido na sala, revisaram as vinte finais, no 100° encontro de discussão sobre a peleja. Um gol e tanto contra à cultura corneteira esportiva.
Às oito horas da matina começou o café da trupe que se reúne para, praticamente, dizer um ‘não’ à passividade como torcedor, como amante do futebol. Um não às desconsiderações de dados, períodos, da história da modalidade e dos atletas, como um todo. Um não aos ‘cornetas’ de plantão.

E como faz?
São 40 membros, em média, e uns 200 seguidores do Grupo Memória e Literatura do Futebol (Memofut), segundo o administrador de empresas e coordenador dessa galera Alexandre Andolpho Silva, 46.
Todo esse pessoal chega aos encontros mensais com a língua afiada, para contestar e conferir um ponto ou outro da pauta em questão. Cada um pela sua linha de estudo preferida.
– A gente está na estrada há dez anos e somos um grupo não profissional, não constituído formalmente, mas as pessoas [que o formam] conhecem muito sobre futebol, nas mais variadas vertentes. Há os estatísticos, os apaixonados pela literatura, os generalistas... No meu caso, particularmente, procuro ter todas estas visões reunidas”, conta Silva, quem torce pelo Palmeiras.
A programação começa às 8h00, sempre, com um café de abertura organizado pelos líderes. Uma hora depois, com a prosa, o networking já iniciados, com todos os membros ‘aquecidos’, a bola rola no auditório: apresentação de dados históricos dos embates pelo bronze, ouro e prata do Mundial.

Assim discorreu-se. Perpassaram, na centésima reunião, as vinte Copas - 19 finais -, já disputadas, desde 1930, quando Jules Rimet criou o torneio, pelas estatísticas curiosas dos duelos mencionados.
Um trabalho árduo e apresentado impecavelmente, com direito a uma interação quente: todos os membros presentes tinham os dados na ponta da língua para questionar a tempo. As mesas redondas da grande mídia ficaram no chinelo, na comparação. E assim se deu até o horário do jogo, o qual foi arrebatado pelos belgas.
Qual o segredo?
Do turismólogo que relatou sua experiência na Rússia, onde ensaiou o ofício de jornalista recolhendo depoimentos quanto ao porquê de tamanha insatisfação de alguns compatriotas com o país natal, ao jornalista que atua nas mídias alternativas – ou vive no cenário ‘underground’, como o colega Darcio Ricca costuma dizer –, a importantes agentes do nicho, como Hélio Maffia, preparador físico consagrado... Os integrantes tem, todos, num ponto ou outro, uma artéria boleira pulsando, frenética. Ensandecida.

Mais: cada qual soma a seu estilo, como Silva adiantou. Cada qual com sua vertente, e todos unidos por um ideal: a boa peleja – problematizada, revisada e desmitificada, como a grande imprensa deveria pensar antes de cobri-la. Como nós, jornalistas, deveríamos pensar em trabalhar para formar – bem – a opinião pública.
Quase que um não à corneta esportiva, futebolística, mas também a postura que assumimos pós-ascensão da internet e as redes sociais - a passividade, somada à reprodução disparada. Uma recusa benéfica, pela centésima vez, em prol da evolução coletiva.
- O grupo tem uma importância muito grande, porque o futebol é feito de achismos, então a gente aqui, muitas vezes, desmontou algumas versões, através de fatos, de informação e investigação. A importância é muito grande e acredito que o maior segredo dele é a troca de experiências. As pessoas em conjunto, com o mesmo objetivo, só tendem a ganhar”, pontuou.
+1 info de acréscimo
Aos boleirxs interessados, é só comparecer nas datas indicadas, normalmente disponíveis no site oficial do Museu do Futebol com antecedência e, para quem tiver cisma com anotação, levar um caderninho.
O programa é grátis, poupa o comportamento passivo frente a publicações em redes sociais e comentários corneteiros de jornalistas esportivos.
Próximo encontro: no dia 11/08/2018; Horário: 8h00; Endereço: Auditório do Museu do Futebol, na Praça Charles Miller.
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